Quadrinhos auto biográficos são uma fonte riquíssima de boas histórias.
Geralmente narradas por “desconhecidos”, elas nos trazem desde passagens de vida totalmente alheias a nossos olhos, quanto narrativas sociais de quem viveu na pela momentos históricos.
Você deve se lembrar do fatídico ataque de fundamentalistas islâmicos ao Charlie Hebdo, um jornal semanal satírico francês. As controvérsias entre os fundamentalistas e o jornal começaram em 2006, quando o último reproduziu charges do jornal dinamarquês Jyllands-Posten sobre Maomé, publicadas inicialmente em 2005, essas caricaturas provocaram atos de violência por parte de extremistas islâmicos contra as embaixadas Dinamarquesas. No dia 7 de janeiro de 2015, em Paris, o semanário foi alvo de um novo ataque, terroristas atacaram a sede do jornal, supostamente, como forma de protesto mais uma vez contra a edição Sharía Hebdo, que em 2011 (data da publicação) já havia causado tumulto. O atentado resultou em – no mínimo – doze pessoas mortas, entre as quais Charb, Cabu, Honoré, Tignous, e Wolinski (cartunistas do jornal) e mais cinco feridas gravemente.
Mas essa é outra história.
O pesadelo de Mana Neyestani começa em 2006, quando ele desenha uma conversa entre uma criança e uma barata no suplemento infantil de um jornal iraniano. O inseto utiliza uma palavra azeri, e os azeris, povo de origem turca do norte do Irã há muito oprimido pelo regime central, se sentem provocados. Para alguns deles, o desenho de Mana é o estopim que faz inflamar os ânimos e um excelente pretexto para desencadearem um levante. O regime de Teerã precisa de um bode expiatório, e Mana e o editor do jornal são detidos e mandados para a prisão 209, uma seção não oficial da prisão de Evin, sob a administração da VEVAK, o Ministério da Inteligência e da Segurança Nacional. Ao termo de três meses de detenção, Mana obtém alguns dias de liberdade provisória. É então que decide fugir com sua mulher.
Comovente e perturbador, Uma metamorfose iraniana é um mergulho em apneia no sistema totalitário kafkiano instaurado pelo regime iraniano.
Perseguições políticas, arbitrariedades praticadas em nome da lei e a questão sempre polêmica acerca da liberdade de expressão, fazem as referências ao caso Charlie. A grande sacada aqui é ver o que acontece quando alguém de dentro da região de conflito vira o alvo, sendo parte do problema em questão. Sem apoio, esgueirando-se pelo meio corrupto e sórdido dos interesses políticos, vemos o quanto o apoio internacional aparece apenas quando convém…
Trazido ao Brasil pela Editora Nemo (que está se tornando uma das principais em termos de conteúdo no Brasil), tem como autor Mana Neyestani (roteiro e arte) e originalmente publicada como Une métamorphose iranienne (Tradução de Fernando Scheibe).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 208
Recomendo fortemente esta história, que é muito mais que um quadrinho…