Sinopse Oficial: Tânia e seu irmão cresceram entre o garimpo, o puteiro e o cemitério. Daí o nome do lugar: “Três Buracos”. Foi cavando a cova de um enforcado que Delegado, pai dos dois, descobriu “a maior turmalina que já brilhou no mundo”. No entanto, essa descoberta trouxe desgraça a ele e a todos do garimpo. Anos depois, Tânia, sua companheira Cleonice e seu irmão Canhoto juntam suas vidas desgraçadas em torno de um plano. Buscam riqueza, liberdade e redenção, mas a morte está sempre a cavar covas em Três Buracos.
Dando sequência a uma trajetória de narrativas de terror e crítica social iniciada no premiado quadrinho “LAVAGEM”, Shiko mistura o forró de Luiz Gonzaga e a cantiga medieval de Calderón de la Barca, o Sertão contemporâneo e o faroeste italiano, a realidade e o sonho para nos contar essa história de “botija”, na qual as almas estão sempre entre a salvação e o Inferno.
O forró Buraco de Tatu, de Luiz Gonzaga, é parte do texto em um momento que Tânia está no garimpo. A letra simples e direta, aqui toma um duplo sentido com a trama da história. Confira na sequência a letra da música e o vídeo.
Não boto a mão em buraco de tatu,
Que é muito perigoso, é preciso ter cuidado.
Lá dentro pode ter um cascavel, ou um urutu.
esperando com o bote armado.
Não bote a mão em buraco de tatu,
Que é muito perigoso, é preciso ter cuidado.
Lá no meu roçado, no meio do mandiocal
Tem muito buraco de tatu
O meu irmão que é muito enxerido
Botou a mão puxou um surucucu
Bem feito, quem foi que te mandou
Enfiar a mão no buraco do tatu, (2x).
A vida é sonho, que Calderón de la Barca escreveu em 1636, é outra obra referenciada em Três Buracos. Na obra o príncipe Segismundo vive desde a infância numa prisão escura, acorrentado, tendo sido ali colocado por seus pais em virtude de uma profecia que vaticinava que ele, chegando à idade adulta, traria grandes desgraças ao reino.
Muitos anos depois, o rei arrepende-se e começa a pensar se havia procedido corretamente aprisionando o filho daquele modo. Manda então narcotizá-lo, retirá-lo da prisão e, ao acordar daquele sono estranho Segismundo se vê no palácio real, bem vestido e cheio de jóias. Dizem-lhe que ele é príncipe, e que tudo aquilo que lhe havia acontecido antes teria sido apenas um sonho.
Uma vez investido no seu novo papel, Segismundo, de acordo com a profecia, começa a cometer os desatinos que haviam sido anunciados quando do seu nascimento. Sem conseguir suportar seus desmandos e loucuras, o rei faz a operação inversa: narcotiza-o, despe-o das roupas caras e das jóias e encerra-o novamente no escuro calabouço, preso a grossas correntes.
Shiko
Natural de Patos – PB e nascido em 24 de março de 1976, Francisco José Souto Leite, mais conhecido como Shiko, se mudou para João Pessoa quando ainda tinha 18 anos, época em que começou a trabalhar com publicidade e também quando deu início a sua produção de quadrinhos independentes, especialmente para a revista Indie Marginal Zine. Nessa época ele também fazia uns desenhos para tatuagens e para camisetas de amigos.
Por conta do seu trabalho nessa revista conheceu algumas pessoas que trabalhavam com vídeo, produção e música. Fez amigos e começou a desenvolver flyers para shows, além de capas de CD das bandas do circuito underground. Dessa forma, foi ficando conhecido, passando rapidamente para o trabalho em tela e grafite. Shiko percebeu as mil possibilidades de campo de atuação, foi se descobrindo e consolidando seu nome e trabalho.
Francisco virou Shiko enquanto trabalhava em uma agência de publicidade com três Chicos. Mudou de grafia para facilitar a vida de todos. Ao contrário do que todo mundo comenta, não é por causa do significado, é de origem japonesa e também se refere ao nome da postura de uma arte marcial, o Kung Fu. “Para ser radical e diferente eu troquei todas as letras da forma correta e acabou pegando”, revelou para Lidianne Andrade, em 2008, para a Revista O Grito!
E por mais incrível que pareça, Shiko nunca trabalhou com outra coisa senão com a arte. Os temas recorrentes utilizados pelo artista giram em torno de fantasia, erotismo, folclore, solidão e cultura popular.
Em 2011 o artista se mudou para a Itália para passar um período de três anos, com a expectativa de publicar seu trabalho na Europa. Suas obras incluem a adaptação de “O Quinze” e as graphic novels “O Azul Indiferente do Céu”, “Talvez seja mentira”, “Lavagem” e “Piteco – Ingá”.
Com esta última, em 2014, ganhou o 26º Troféu HQ Mix de melhor desenhista nacional e melhor publicação de aventura/terror/ficção. Também ganhou o 30º Prêmio Angelo Agostini como melhor desenhista, dois dos mais importantes prêmios de quadrinhos nacional.
Três Buracos é um quadrinho obrigatório para qualquer colecionador ou mesmo para quem aprecia arte. O traço de Shiko é espantoso e a riqueza que dá para os personagens nos transporta para cada cena.
Link para compra: http://www.amazon.com.br/Tr%C3%AAs-Buracos-Shiko/dp/8569032463
Capa dura: 136 páginas
Editora: Mino (22 de agosto de 2019)
Idioma: Português
Dimensões do produto: 19,6 x 27,8 x 1,8 cm