Muito cuidado com esta resenha! Ela não contém spoilers, mas a empolgação pode te influenciar de alguma forma… A adaptação da obra máxima da dupla Alan Moore e Dave Gibbons finalmente ganhou os cinemas, com alarde e badalação. São 156 minutos de uma experiência audio-visual que certamente renova o termo cult nos cinemas. Talvez seja cedo para afirmar, mas aqueles que assistirem Watchmen nos cinemas estarão presenciando um momento único, daqueles para se recordar no futuro, na conversa com os amigos ou contando para seus filhos sobre filmes que marcaram época: “Eu fui a estreia de Watchmen nos cinemas!” Saí com essa sensação. Semelhante a de possuir os exemplares originais da primeiras publicação da série, 23 anos atrás: “Eu tenho Watchmen original!”… Mais ou menos isso, entendeu? Não? Imagine que você assistiu a um jogo do Pelé e ao final da partida ele joga a camisa para torcida e ela cai no teu colo.
Watchmen definitivamente não um filme fácil de se digerir logo de cara. Quem leu a obra impressa fica vidrado na tela em busca de todos os detalhes, referências e comparações. Quem não leu, pode achar demasiado o tempo gasto com cada personagem. Alguns podem até reclamar da “falta de ação” durante o filme, pois se trata de um filme de super-heróis. A verdade é que Watchmen é complexo e assim como as cebolas (não, ele não te faz chorar), deve ser entendido em camadas.
O diretor Zack Snyder, de posse do roteiro devidamente adaptado pelas mãos de David Hayter e Alex Tse entendeu o peso de uma obra tão premiada e símbolo de todo um segmento de arte. E o resultado foi ótimo.
O filme tráz o pano de fundo oitentista da Guerra Fria, o medo da corrida armamentista e a possível 3ª Guerra Mundial. A tensão de cada lado das potencias bélicas mundiais fica irrefreável o fim parece iminente. Tudo verossímil dentro do contexto da obra. Diferente da obra original, as tramas paralelas, como o cotidiano dos dois Bernards (o leitor e o jornaleiro), a redação do The Frontiersman, as brigas conjugais do analista prisional de Rorschach e claro, o paralelo com os Contos Do Carguerio Negro. Mas isso tudo não faz falta? Não. O roteiro foi tão bem costurado que a trama mantém seu peso mesmo sem esses elementos originais (porém prometidos nos 56 minutos extras da versão do diretor, em DVD, claro).
Diante do holocausto anunciado, os Vigilantes (herois “aposentados” pela lei americana) são alvo de uma conspiração e tem a obrigação de salvar o mundo. “Ah, mas isso todo filme de herói tem”. Realmente. Mas o que ele tem de diferente é o cotidiano desses vigilantes. Eles não tem superpoderes, voam, tem garras metálicas ou emitem raios. Todos são mortais, tem problemas cotidianos, contas a pagar, ciúmes, brigas familiares.
Prepare-se também para uma ambiguidade interessante. O visual cheio de cores e capas dos heróis contrasta com a violência empregada em várias cenas. A nudez também não é banalizada, afinal o Dr Manhattan não usa nada… assim como as cenas sensuais envolvendo Malin Akerman.
Ponto alto do filme, destacado por aqueles que nunca viram nada sobre ele ou aqueles que já leram sobre o assunto: a Trilha Sonora de Watchmen. Sensacional. Escolha perfeita aliada a execução oportuníssima. Veja a lista ao final desta resenha.
Por fim, quero destacar algo que não lia ainda em nenhuma outra resenha sobre Watchmen: os créditos iniciais. Não que eu seja o maior conhecedor do cinemas, mas entendo um bom tanto de quadrinhos. Não houve até hoje uma exibição de créditos iniciais tão bem feita, importante e emocionante. Como um gol de placa, onde o comentarista diz que “o torcedor deveria sair do estádio e pagar ingresso novamente”, foi essa sensação que tive. Não dá para comparar com nada feito antes e provavelmente não teremos algo parecido. The Times They Are A-Changin’, de Bob Dylan, faz emocionar.
Aviso aos que nunca leram nada sobre o assunto: O final é surpreendente. Diferente do original, o final foi “atualizado” e mesmo assim não deixa a desejar. Não é um final convencional, mas de forma alguma poderia ser diferente ou benéfico de outro modo. Por isso vai render muita discussão.
Em fim… Bom filme!
Ficha Técnica:
Watchmen – O Filme
EUA, 2009 – 156 min
Ação / Drama / Ficção científica
Direção:Zack Snyder
Roteiro:Alex Tse, David Hayter
Elenco:Jackie Earle Haley, Patrick Wilson, Billy Crudup, Jeffrey Dean Morgan, Malin Akerman, Matthew Goode, Carla Gugino, Matt Frewer, Stephen McHattie, Laura Mennell, Robert Wisden
Watchmen Original Soundtrack (OST) 2009
01 – My Chemical Romance – Desolation Row
02 – Nat King Cole – Unforgettable
03 – Bob Dylan – The Times They Are A-Changin’
04 – Simon & Garfunkel – The Sound Of Silence
05 – Janis Joplin – Me & Bobby McGee
06 – KC & The Sunshine Band – I’m Your Boogie Man
07 – Billie Holiday – You’re My Thrill
08 – Philip Glass – Pruit Igoe & Prophecies
09 – Leonard Cohen – Hallelujah
10 – Jimi Hendrix – All Along The Watchtower
11 – Budapest Symphony Orchestra – Ride of the Valkyries
12 – Nina Simone – Pirate Jenny