Neste episódio de hoje vamos falar de uma famosa personagem da história, retratada em vários filmes e que ainda hoje sua vida é objeto de estudos: Cleópatra! Digamos que um pouco de fornicação demais para o país, fez com que Cleópatra e Marco Antonio levassem dois impérios para o buraco: o ptolomaico e o romano.
Não é estranho que Cleópatra, última das ptolomaicas, ícone feminista e uma das primeiras femmes fatales, quase não tenha deixado imagens marcantes que se possam atribuir a ela?
Cleópatra foi uma líder notável dos egípcios, embora as suas investidas em estratégia geopolítica pareçam ter sido, em grande parte, horizontais e até desastrosas. Em todos os 300 anos da dinastia ptolomaica (que eram gregos da Macedônia), Cleópatra VII foi a única soberana que efetivamente se deu o trabalho de aprender a falar e a ler egípcio. Ao ser coroada em 51 a.C., aos 17 anos, ela realmente não esperava assumir o poder.
Em monarquia matrilinear como essa, a líder feminina devia ser casada – não importasse com o pai, o irmão ou o filho – para parecer estar no poder, mas, na verdade seriam os homens os verdadeiros governantes. Assim a jovem Cleópatra casou-se como seu irmão mais moço, Ptolomeu XIII, e os generais esperavam muy confiantes, que o poder estivesse em mãos seguras. Com o passar do tempo, porém, vimos que nem de perto foi o caso, e, em poucos anos, Cleópatra foi obrigada pelo irmão e seus cupinchas a fugir do Egito.
Cleópatra talvez não tenha tido a beleza de Helena de Tróia; tão pouco é provável que fosse brava guerreira, mas era formidável em outros aspectos, como em breve descobriria o irmão.
Os egípcios, na época, apenas lutavam pela independência – poucas décadas antes do nascimento de Cristo, com Júlio César reinando supremo em Roma e o Império aproximando-se do apogeu, quando se estendia de uma ponta do mundo (Britânia) até o outro extremo no Oriente Médio.
Já os egípcios tinham preservado a independência homenageando Roma e bajulando os poderosos. Ptolomeu, porém, levou a estratégia longe demais. O general romano Pompeu, ao fugir de Roma depois de perder a guerra civil para Júlio César, buscou refúgio em Alexandria. Ptolomeu, em vez de abrigá-lo, matou o sujeito.
César, que havia derrotado Pompeu, era genro dele, e considerou a atitude uma afronta à dignidade romana. Intrometeu-se, então, nos assuntos internos do Egito, viajando à Alexandria e anunciando a intenção de determinar se o soberano seria Ptolomeu ou Cleópatra.
Segundo o relato histórico, César, ao chegar, recebeu de presente uma fina tapeçaria que, ao ser desenrolada, revelou Cleópatra, então com 21 anos. Fosse hoje, Júlio César correria o risco de receber um nudes pelo Whatsapp…
Não é preciso dizer que ela logo voltou ao trono. Passou o inverno com César, em cruzeiro de dois com meses pelo Nilo, onde era aclamada pelos súditos com o tipo de reverência só concedida aos faraós do velho Egito. Sim, seus seguidores em muito engajados.
Ela também deu a César um filho, Cesarião. O plano de Cleópatra era conquistar o poder e salvar o país doente, formando uma aliança com os poderosos romanos. Dessa vez, porém, o plano não deu certo.
Ao voltar para Roma, César mandou um perdão pelo vacilo e reconciliou-se com a esposa, deixou Cesarião de lado e escolheu o sobrinho-neto, Otávio, como próximo governante de Roma. César foi assassinado em 44 a.C., exatamente na época em que Cleópatra e o filho visitavam Roma, talvez na esperança de convencer César a mudar de opinião. Coincidência…?
Já diria Cebolinha, Cleópatra tinha agora um novo plano infalível, e não permitiria que outra oportunidade escorresse entre seus dedos. Apesar dos pesares Cleópatra parecia, sinceramente, respeitar César e importar-se com ele.
O problema porém, era quem seria o próximo governante.
César foi substituído por um triunvirato: Otávio; Lépido, senador romano idoso; e Marco Antônio, orgulhoso general cujo poder do textão no Facebook durante o funeral de César lançou a multidão contra os assassinos (pelo menos no relato de Shakespeare).
Enquanto isso, Cleópatra safadenha voltou ao Egito, mandou matar o irmão e se casou com o filho, o que lhe garantiu o controle completo do Estado. Tentou salvar o país da fome e da praga e reconstruiu suas forças, enquanto esperava o surgimento do novo líder romano. Em 41 a.C., tudo indicava que seria Marco Antônio.
Otávio estava doente e Antônio mandou chamar Cleópatra. Ela chegou com tanto estilo e ostentação que até em Hollywood iriam gastar uma nota para reproduzir.
Marco Antônio, apesar do poder do textão e o generalato, não se destacava muito pelo brilhantismo; era conhecido por ser bebum e não podia ver uma vergonha, que queria passar… Como era esperado, sucumbiu totalmente aos encantos de Cleópatra.
O relacionamento foi imediato e intenso, logo gerando gêmeos. Depois de um vai e vem de batalhas. Os dois mergulharam num relacionamento vida-loca, recheado de luxúrias e ganância.
No melhor estilo Ratinho, os adultérios maluquices dos dois não passariam em branco, como veremos mais adiante.
Logo já veio também outra criança, agora um menino. Com os recursos egípcios e a liderança de Antônio, o casal conquistou grande naco do Oriente Médio: Síria, Ásia Menor, Chipre, Armênia e Creta, tudo já direcionado ao novo filho.
A própria Cleópatra foi nomeada Rainha dos Reis, e Cesarião, filho dela com César, foi escolhido herdeiro de Roma, em vez de Otávio. Otávia divorciou-se. Tudo dava a entender que vinha um baita novo reino, com Cleópatra na condição de nova Ísis.
Em 31 a.C., Otávio já vira o suficiente, e desfraldou enorme frota na tentativa de vencer Antônio e Cleópatra. Ambos apareceram na Batalha de Áccio, mas a desvantagem numérica de Antônio era tão grande que Cleópatra fez o que? Fugiu sem ele.
De acordo com todos os relatos, ele desertou das próprias forças derrotadas e correu atrás dela. Otávio, então, lançou um ataque em grande escala contra o Egito, e em um ano conquistou Alexandria. Antônio jogou-se contra a própria espada para evitar a captura, perdendo a vida pela ganância de poder e pela lascívia da rainha.
Cleópatra, porém, tinha melhor estofo, e parece ter feito mais uma tentativa com o próprio Otávio, sugerindo uma aliança nas condições habituais.
Logo ficou claro, porém, que ele não tinha intenções de forjar qualquer
pacto com a mulher que seduziu o cunhado. Ele queria trazê-la acorrentada para Roma.
Humilhação pública e em carro alegórico não era para Cleópatra. Em todo caso, ela havia construído, no mais autêntico estilo faraônico, um mausoléu, como precaução para a hipótese de Antônio revelar-se incapaz de defendê-la em terra, como já havia feito no mar. E, assim, trancou-se durante três dias, até a hora de ser levada para Roma, quando pediu a famosa cesta com figos, na qual se escondia uma víbora, onde segundo a crença em que a religião egípcia garantia a imortalidade da alma, depois da morte do corpo por mordida de cobra, veio a partir desta pra melhor em 12 de agosto de 30 a.C.
A dinastia terminou com ela. Otávio logo se tornou o imperador Augusto, mandou estrangular o pequeno Cesarião e determinou que os filhos de Antônio fossem enviados para Távia, em Roma, onde todos à exceção de uma filha, logo desapareceram. O Egito agora jazia sob o controle direto de Roma.
Estivesse certa ou não a teologia egípcia, Cleópatra de fato alcançou algum tipo de imortalidade: de Plutarco a Shakespeare; de Shaw a Elizabeth Taylor; aos inúmeros itens evocativos da rainha, à venda no eBay a qualquer momento.
O custo do da luxúria e ganância de Cleópatra foi a derrocada de uma dinastia e, com efeito, a independência do Egito durante muitos séculos. Não sem razão ela era conhecida como o último dos faraós. Talvez, em algum lugar, a rainha tenha sorrido quando o general Nasser conquistou suas vitórias na causa da independência do Egito, durante a crise de Suez, muitos séculos depois.