Mamãe está com Câncer – Entrevista com Brian Fies

E hoje trazemos uma entrevista inédita para o público brasileiro! Vamos bater um papo rápido com o autor ganhador de um prêmio Eisner: Brian Fies, com sua obra Mom’s Cancer, ou como será lançada por aqui pela editora DarkSide Books, Mamãe está com Câncer.

1- Mamãe está com Câncer será seu primeiro trabalho a ser publicado aqui no Brasil, então o público brasileiro ainda não teve o prazer de conhecê-lo! Conte-nos um pouco mais sobre você, de onde você é, suas ocupações, do que você gosta, etc.

Eu moro perto de São Francisco, nos Estados Unidos, e tive muitas carreiras diferentes enquanto tentava ser escritor e cartunista. Depois que me formei na universidade, fui repórter de um pequeno jornal. Depois disso, trabalhei como químico ambiental e depois como redator científico. Durante todas as minhas carreiras, também fiz ilustração, redação e cartuns freelance.

Tenho uma esposa, Karen, e duas filhas gêmeas que agora são adultas. Amo escrever, arte e ciência. Nada me deixa mais feliz do que colocar nanquim ou tinta no papel, porém tenho medo de nunca ser um artista digital. Isso não é nada divertido para mim!

2- Esse foi seu primeiro trabalho como quadrinista ou foi seu primeiro livro publicado?

Mamãe está com Câncer foi meu primeiro grande trabalho de quadrinhos. Já tinha feito quadrinhos menores e trabalhos gráficos, como arte de jornal, antes. Eu ilustrei um catálogo de lâmpadas uma vez; lâmpadas vêm em uma incrível variedade de formas! Sempre adorei quadrinhos e, quando estava na minha adolescência e no começo dos vinte anos, tentei muito me tornar um cartunista profissional. Como muitas pessoas em muitos campos criativos, falhei. Então fui para outras carreiras, mas sempre continuei fazendo quadrinhos.

Quando minha mãe foi diagnosticada com câncer, percebi que uma história em quadrinhos era a maneira perfeita de contar a história da minha família. O Mamãe está com Câncer começou online como um webcomic, porque postá-lo online era barato e fácil, e eu não sabia mais o que fazer com ele. A história se tornou viral. Dezenas de milhares de pessoas leem todos os dias. Com isso, ganhou um Prêmio Eisner, que é um reconhecimento importante, e encontrou uma editora americana que queria imprimi-lo como um livro. Então, sim, foi meu primeiro!

3- Ter um trabalho inicial tão valorizado e reconhecido, como o Mamãe está com Câncer, deve ser uma mescla de sensações: orgulho pelo reconhecimento do trabalho, mas ao mesmo tempo se refere ao momento crítico que você viveu. Como foi a trajetória deste livro, desde a ideia inicial até a versão final?

A melhor sensação que veio de fazer o Mamãe está com Câncer foi o orgulho da minha mãe por isso. Ela gostou muito. Acho que ela viu minha história como uma forma de criar algo bom e útil com sua terrível provação. Estou orgulhoso disso.

Inicialmente, meu objetivo era desenhar um mapa para outras pessoas que vinham atrás de nós seguirem. Minha família e eu frequentemente ficamos surpresos com os problemas ou frustrações que surgiram no tratamento do câncer de minha mãe. Eu queria escrever um livro que gostaria que outra pessoa tivesse escrito para mim. Estou feliz que muitas pessoas me disseram que eu tive sucesso e que o Mamãe está com Câncer as ajudou a entender o que elas e suas famílias estavam passando.

Fiquei muito surpreso ao saber de pessoas cujas famílias eram muito diferentes da minha e cujos problemas não eram câncer. Pessoas que não tinham absolutamente nada em comum comigo e minha família escreveram para me dizer que sentiam como se eu estivesse sentado em suas próprias casas, observando-os. As pessoas são muito semelhantes em todo o mundo, e as famílias em qualquer crise vivenciam o mesmo estresse, discussões, frustrações, tristezas e outras emoções. Fiquei surpreso com o quão universal minha história era.

Hoje em dia, posso olhar para Mamãe está com Câncer como um álbum de fotos de família que sempre contará a história sobre um momento muito difícil que passamos juntos.

4- Como é ter um trabalho reconhecido fora do meio artístico? O Dr. Michael Green, do British Medical Journal, reconhece que sua história em quadrinhos tem um poder que um relatório clínico não teria de transmitir a experiência do paciente e de sua família. Você já imaginou atingir esse nível de reconhecimento?

Uma das coisas mais incríveis que surgiram de Mamãe está com Câncer é se tornar parte da comunidade da medicina gráfica. “Medicina Gráfica” inclui médicos (como meu amigo Michael Green), enfermeiras, professores universitários, artistas e escritores que pensam que os quadrinhos podem contribuir para a saúde. Os quadrinhos podem ensinar, contar histórias, compartilhar informações e ajudar os pacientes a compreender suas próprias experiências.

A medicina gráfica realmente não existia como um campo de estudo quando fiz o Mamãe está com Câncer. Fui convidado para a primeira Conferência Internacional de Medicina Gráfica em Londres em 2010 e fiz amigos de longa data lá. Os quadrinhos são ensinados em universidades e escolas de medicina agora, e Mamãe está com Câncer faz parte disso. Estudantes universitários e professores escrevem artigos sobre o assunto. Tudo isso foi completamente inesperado e profundamente gratificante.

Se Mamãe está com Câncer for a única coisa pela qual um dia serei lembrado, ficarei muito feliz com isso.

5- Sem nos contar spoilers agora, tem alguma parte da obra que seja ficcional, ou é 100% biográfica?

Mamãe está com Câncer é o mais absolutamente relato honesto que eu poderia fazer. Isso não significa que seja uma verdade objetiva! Minhas irmãs, que também são personagens do livro, me disseram que não se lembravam de todos os acontecimentos da mesma forma, mas respeitaram a forma como contei a história.

Algumas partes da história usam simbolismo e metáfora, que são as maiores ferramentas narrativas dos quadrinhos, para expressar sentimentos ou experiências subjetivas. Por exemplo, há um lugar no livro onde desenho minha mãe andando na corda bamba. Claro que ela nunca andou na corda bamba, mas foi assim que representei os perigos de seu tratamento e sua coragem em enfrentá-los.

6- Por fim, aguardamos a publicação deste e de outros trabalhos. Há alguma negociação nesse sentido? Teremos mais publicações suas aqui?

Criei mais duas histórias em quadrinhos depois de Mamãe está com Câncer, intituladas (em inglês Whatever Happened to the World of Tomorrow?) O que aconteceu com o mundo de amanhã? e A Fire Story. Também tenho um quarto livro que deve ser publicado nos Estados Unidos no final de 2021.

Não tenho conhecimento de esforços para publicá-los no Brasil ou em português. Eu gostaria muito! Os antepassados ​​da minha mulher são de Portugal e dos Açores, por isso significa muito para a minha família. Se meus livros serão publicados em outros países depende inteiramente de as editoras desses países perguntarem à minha editora nos Estados Unidos, Abrams Books. Então vamos lá, perguntem!

Aqui na Redação do Fanzine estamos ansiosos pelo lançamento anunciado pela Darkside Books, que tem data prevista para 11 de novembro de 2020! Portanto em breve teremos os comentários de mais este quadrinho que promete estar em nossa lista de Melhores do Ano 2020!

Fabio Camatari Escrito por:

Dinheiro não traz felicidade... mas compra quadrinhos, que é quase a mesma coisa!