Sinopse Oficial: Numa reinterpretação ousada, porém necessária, como enaltece Mauricio de Sousa, em seu prefácio, o roteirista Rafael Calça e o desenhista Jefferson Costa dão vida a uma história forte, dura, emocionante, na qual Jeremias lidará pela primeira vez com o preconceito por causa da cor da sua pele. A história é recheada de dor, superação, aprendizado e preparação para a vida.
Jeremias – Pele segue a linha de revistas em quadrinhos essenciais, por vários motivos: ótima arte, roteiro primoroso, temática altamente relevante e uma mensagem forte, que nos faz pensar em vários sentidos diferentes, conversando com públicos de todos os tipos.
Evidente já pelo nome – Pele – esta graphic MSP trata de preconceito. O bullying na escola é abordado, assim como situações cotidianas tão familiares que beiram o clichê, mas isso de longe é um demérito. Muito pelo contrário, as situações colocadas dessa forma nos mostram quão comum é o preconceito racial em nossa sociadade, assim como comum é a hipocrisia com que lidamos com o tema.
Separei duas sequências justamente para exemplificar isso:
Você já se pegou rindo de uma “piada” preconceituosa? Achou normal, afinal Fulano já está acostumado, Fulano também brinca, Fulano isso ou aquilo..?
Ou então já deixou de sentar ao lado de alguém, por motivo de cor, social ou seja lá qual for a desculpa?
Essa reflexão é poderosa para quem não é atingido pelo preconceito racial.
Em declarações recentes, nosso amigo Sidão (Sidney Gusman, Editor MSP) disse que esta graphic está sendo tão relevante que seus impactos serão sentidos na linha editorial dos outros quadrinhos MSP, assim como no ambiente de trabalho.
Se você tinha alguma dúvida sobre o poder de uma história em quadrinhos, veja o relato da quarta capa desta edição, escrito pelo rapper Emicida:
Aproveitando, compartilho com vocês o texto de Neivia Justa, Top Voice do Linkedin, Vencedora do Troféu Mulher Imprensa e do Prêmio Aberje 2017.
Em 1500 nossa terra brasilis era formada por indígenas. Eis que chegaram os homens brancos e seus escravos negros. De lá para cá, acolhemos os asiáticos e toda sorte de etnias. Hoje somos considerados um dos países mais miscigenados do mundo. Será?
Cerca de 45% dos brasileiros se autodeclaram pardos – mestiços com diferentes ascendências étnicas, frutos de uma mistura de cores de peles entre brancos, negros e indígenas.
Somos o segundo maior país negro do mundo, atrás apenas da Nigéria. Mais da metade da nossa população, 54%, é formada por pretos e pardos. Três em cada 10 brasileiros, são mulheres negras. Pouco mais de dois milhões se declaram amarelos e quase 900 mil se dizem indígenas, representantes de 305 etnias, que falam 274 línguas.
Se somos essa mistura de brancos, pardos, pretos, amarelos e indígenas, onde está representada toda a diversidade brasileira? Quantas pessoas negras havia na sua escola? E na faculdade? Já teve colegas, chefes, gente negra contratada para fazer parte do seu time de trabalho?
Você acredita que tem “coisa de preto” e “dia de branco”? Que “preto quando não suja na entrada suja na saída”? Que uma pessoa tem “um pé na cozinha”? Que “oriental é tudo igual”?
No ano de 2012, uma colega de trabalho me ensinou que “oriental é para tapetes” e que, quando nos referimos a pessoas, deveríamos usar o termo “asiáticos”.
Ao ouvir uma piada racista, qual a sua atitude? Ri junto, compartilha, fica em silêncio ou combate?
Já parou para pensar que não existe neutralidade nesses casos? Que, se não combater aquela “brincadeirinha”, você está perpetuando o racismo?
É, “cara pálida”, “a coisa está ficando preta” para o seu lado.
Que tal começar a acolher a diversidade, promover a inclusão e se tornar agente da mudança desse nosso “passado negro”?
Pense nisso.
Neivia Justa é Top Voice do Linkedin, Vencedora do Troféu Mulher Imprensa e do Prêmio Aberje 2017. Executiva de Comunicação e Diversidade & Inclusão, Jornalista, Palestrante, Professora, Mentora e Criadora da #JustaCausa e dos movimentos #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres. Trabalha para transformar o mundo num lugar melhor para as futuras gerações.
Artigo originalmente publicado no Jornal O Povo, em 20/04/18.