Refugiados: A Última Fronteira – Kate Evans

Sinopse Oficial: Na cidade portuária francesa de Calais, surgiu uma cidade dentro de uma cidade. Conhecida como “Selva”, essa esquálida favela de contêineres e barracas foi lar de milhares de refugiados, principalmente do Oriente Médio e da África, todos esperando, de alguma forma, chegar ao Reino Unido.
Rodeadas por ratos e lixo, e privadas de qualquer saneamento básico ou segurança, essas pessoas são o retrato de uma crise humanitária refletida em diversos cantos do mundo. E é com maestria que a quadrinista Kate Evans lança uma luz sobre essa história na premiada história em quadrinhos REFUGIADOS: A ÚLTIMA FRONTEIRA, lançamento da DarkSide® Graphic Novel.

Antes de falar da obra em si, acho importante contextualizar quem é a autora e o que a motivou. Kate Evans é uma cartunista britânica , autora de não-ficção e romancista gráfica (ou graphic novels, se preferir).

Kate Evans nasceu em Montreal (2 de outubro de 1972) , no Canadá, mas cresceu em Surrey , na Inglaterra. Ela estudou literatura inglesa na Universidade de Sussex, em Brighton, onde se envolveu em oposição política à Lei de Justiça Criminal e Ordem Pública de 1994 . Aqui ela se tornou associada com a publicação ativista DIY Schnews , editando e contribuindo com obras de arte para várias de suas edições anuais. De 1995 a 1998, Evans dedicou-se ao ativismo ambiental (Newbury Bypass para o jornal The Guardian). Em 1998, Evans escreveu, ilustrou e publicou Copse: the Cartoon Book of Tree Protesting.

Desde 2000, Evans produziu uma série de trabalhos gráficos de não-ficção sobre uma variedade de tópicos sociais e políticos. The Food of Love: sua fórmula para o sucesso do aleitamento materno tornou-se um dos títulos mais vendidos no Reino Unido sobre o assunto, popularizando as técnicas parentais de apego. Evans escreveu e ilustrou o manual de gravidez e parto Bump: como fazer, crescer e dar à luz um bebê .

Escreveu também Rosa Vermelha (wmf Martins Fontes, 2017), uma biografia em quadrinhos de Rosa Luxemburgo, um relato da vida e obra da socialista revolucionária, que foi finalista do Bread and Roses Award 2016.

Evans retornou ao jornalismo de quadrinhos com o livro Threads from the Refugee Crisis (ou Refugiados), reportando seu período de trabalho voluntário no acampamento “Selva”, em Calais, França. Recebeu prêmios importantes como o John C. Laurence Award, em 2016, e o Broken Frontier Award, em 2017. Em 2018 tornou-se a primeira graphic novel a ser nomeado para o Orwell Prize for Books.

Hoje vive em Somerset , no Reino Unido, com o marido e dois filhos.

Voltando agora para Refugiados, de cara (literalmente na capa e posfácio), temos a opinião de Alison Bechdel: “Emocionante e belo… jornalismo em quadrinhos de verdade.” E por que uma citação dela é tão significativa? Alison Bechdel, cartunista americana, em 2006 obteve reconhecimento com a publicação de Fun Home – Uma tragicomédia em família (no original, Fun Home: A family tragicomic), uma obra autobiográfica em quadrinhos, apontado pela revista Time como o melhor livro do ano (única HQ a receber essa distinção) e finalista do National Book Critics Circle Award. Em 2007, o livro recebeu o Eisner Award, considerado o oscar dos quadrinhos. Fun Home ainda ganhou uma adaptação musical na Brodway, feita pela dramaturga Lisa Kron e pela compositora Jeanine Tesori, que recebeu cinco prêmios Tony Awards, inclusive o de Melhor Musical de 2015.

Seis anos depois de Fun Home, em 2012, a cartunista lançou uma nova graphic novel, Você é minha mãe? Um drama em quadrinhos (no original, Are you my mother? A Comic Drama) também de teor autobiográfico, que trata de sua relação com a mãe. No Brasil, o livro foi lançado em 2013 com edição da Companhia das Letras.

Bechdel também é a criadora do Teste de Bechdel, que avalia preconceitos e estereótipos femininos em produções cinematográficas. Não vou entrar em muitos detalhes sobre o teste, mas vou recomendar fortemente que ouça o Braincast 129 – Teste de Bechdel e o papel feminino na ficção, que trata muito bem do assunto, ou se preferir ir diretamente: http://bechdeltest.com/

Para entender na atualidade o que está acontecendo neste momento em relação ao tema de refugiados, recomendo a visita ao site da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) e veja não só a situação dos refugiados em Calais, mas também o caso de nossos vizinhos venezuelanos, inclusive com informações de como ajudar esta causa.

Refugiados: A Última Fronteira retrata o quadrinho jornalístico de primeira qualidade, comparado mesmo com Fax de Sarajevo, de Joe Kubert (que já analisamos,link AQUI). Chama atenção também o trabalho de design gráfico das páginas, assim como o letreiramento, fora do comum.

A arte cartunesca e as cores muito próprias transferem a identidade de Kate Evans para as páginas, seu sentimento e agonias. O trabalho de produção primoroso, marca registrada da Darkside Books, é tão caprichado que o marcador de páginas é uma tira de renda (totalmente integrado ao tema, leia!)

Em tempos de polarização política, extremismos e afins, esta obra é extremamente relevante e deve ser indicada (e muito), para a leitura daqueles que carecem de uma abertura de horizontes… É tocante, crua, realista e nos faz refletir sobre a nossa condição, seja qual o lado “cerca” que você esteja.

Capa dura: 176 páginas
Editora: DarkSide;
Edição: 1 (10 de outubro de 2018)
Idioma: Português
Dimensões: 27,8 x 21,6 x 1,6 cm
Compre aqui

Fabio Camatari Escrito por:

Dinheiro não traz felicidade... mas compra quadrinhos, que é quase a mesma coisa!