Os quadrinhos através dos tempos – 2ª parte

ERA DE PRATA

Quarteto FantásticoSe nos anos quarenta, os heróis foram convocados para lutar na Segunda Guerra Mundial contra as potências do Eixo, as décadas de cinqüenta e sessenta forma marcadas pela Guerra Fria e pela perseguição aos quadrinhos.

Fredric Wertham, psiquiatra alemão, resolveu personificar um monstro ou vilão dos quadrinhos ao escrever o livro Seduction of the Innocent (Sedução do inocente). Em sua obra, esmiuçou suas idéias sobre o “verdadeiro intento subversivo” por trás dos quadrinhos. Dentre as hipóteses do tratado, havia a de que a Mulher Maravilha representava idéias sadomasoquistas, mas a mais famosa – e que ainda perdura em alguns meios – é a da homossexualidade da dupla Batman e Robin.

A obra de Wertham foi a mais perfeita expressão no terreno das HQs da “caça às bruxas” vigente ao longo daquela década, que, numa onda sem precedente de conservadorismo, causou vítimas também no cinema, no teatro e na televisão.

Nos anos cinqüenta, o medo era geral, pois os soviéticos tinham agora a bomba atômica e os americanos repeliam tudo que parecesse ameaça ou subversivo dessa superpotência ao seu precioso “american way of life”. O inimigo da humanidade (americana…) passou a ser todo aquele trajado de vermelho, foice e martelo.

Numa demonstração de que comuna bom é comuna morto, Namor (O Príncipe Submarino) rechaçava insidiosos golpes de aquáticas foices e martelos, enquanto, de volta por um breve período no ano de 1954, o Capitão América ensaiava sopapos anticomunistas.

A década de 60 foi marcada pelo novo boom de hérois. A Marvel Comics (chamada A Casa das Idéias) promovia uma nova gênese de mocinhos e bandidos, muitos dos quais hoje recebem nova roupagem nos cinemas. Entretanto, originalmente também vieram como contra argumento à Guerra Fria, sob uma ótica mais crítica agora.

Resumidamente, podemos situar alguns “medalhões”:

Quarteto Fantástico: os quatro “desafiadores do desconhecido” se aventuraram em uma missão espacial não-autorizada, que acabou frustrada por falhas técnicas, porém gerando quatro dos mais carismáticos heróis dos quadrinhos (interessante que Reed Richards, o Gênio do grupo, também chamado de Sr Fantástico, não presumiu que a nave que ocupavam estaria sujeita a radiações espaciais…). Eram uma prévia do sonho americano de dominar o espaço, a começar pela Lua.

O Incrível Hulk: Robert Bruce Banner, cientista do governo americano, desenvolve a mais mortal das bombas atômicas: a Bomba Gama. Em seu primeiro teste, um jovem rebelde-sem-causa chamado Rick Jones invade a área de testes. Dr Banner, (não sabemos porque justamente ele, se o local estava cheio de militares), sai da casamata para salvar o garoto. Neste interim, um espião (adivinhem), russo, detona a bomba prematuramente, apanhando Bruce Banner (que sobrevive!). Como efeito colateral da radiação, passa a se transformar no monstruoso Incrível Hulk, sempre que submetido a situações estressantes.

Homem de Ferro: ferido no Vietnã (um fiasco americano) o famoso empresário-playboy-alcoólatra entraria nas fileiras da Marvel como símbolo da modernidade americana. Caridoso, problemático, seus piores inimigos sempre foram os orientais (que coincidência, os maiores concorrentes tecnológicos americanos eram os orientais…).

Homem Aranha: o jovem Peter Parker, típico nerd criado com a Tia, é picado por uma aranha irradiada (nova referência aos efeitos das radiações) e desenvolve poderes … de Aranha! Vive sob o dilema de “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. Talvez por isso todo presidente americano tenha em mente que também é presidente do mundo, portanto sua responsabilidade…

Demolidor: o jovem Matt Murdock sofre um acidente e se expõe a elementos quimicos perigosos, ficando cego. Porém seus outros sentidos desenvolveram-se incrivelmente, utilizando-os como radar. Começa a onda de justiceiros urbanos, preocupados com minorias (afinal, ele se torna advogado).

X-Men: também conhecidos como Filhos do Átomo, personificam a maioria dos pecados cometidos pela humanidade – nossos filhos nasceriam com os resultados de nossas exposições à radiação, produtos químicos, poluição, enfim, resultados de alterações genéticas que proporcionariam poderes incríveis. Mas estas mutações os tornariam párias na sociedade, evocando a crítica à discriminação racial e pureza genética. Também ficava evidente o medo de “algo superior”, rejeitando o novo e abrindo portas para novos dilemas, como a manipulação genética. Foi com eles que Hollywood começou a febre das adaptações (bem sucedidas) dos heróis em quadrinhos para a telona.

A arquirival da Marvel, a DC Comics, tentou combater a expansão da concorrente também com novos hérois. Entretanto, a era de prata foi marcada pela revolução da Casa das Idéias, consolidando a posição de líder nos quadrinhos na época, por criar os ícones que já influenciam duas gerações.

Soldados a postos, que venha a guerra pelo mercado editorial, marca da atual ERA MODERNA.

Fontes: OMELETE.com.br, Revista Wizard (EUA) e Minha própria coleção!

Fabio Camatari Escrito por:

Dinheiro não traz felicidade... mas compra quadrinhos, que é quase a mesma coisa!